Catarata: causas, sintomas e tratamento
Saiba mais sobre essa doença ocular responsável por 47,8% dos casos de cegueira no mundo
Uma sensação de visão embaçada, maior dificuldade para enxergar mesmo usando óculos, mais sensibilidade à luz e a impressão de que as cores de objetos estão mais “desbotadas”. Esses são alguns sintomas relatados por pacientes nas fases iniciais da catarata. Mas, para confirmar se o problema é mesmo esse, é preciso, sem dúvida, consultar um oftalmologista.
O oftalmologista Eduardo Miranda, diretor da PMX Centro Oftalmológico, com sede em Curitiba, é considerado referência no atendimento a casos da doença. “O tratamento é cirúrgico. A catarata é removida e é feito o implante de uma lente intraocular, que substitui a lente natural do olho, chamada "cristalino". Na maioria dos casos, o problema surge pelo envelhecimento natural. Em estado normal, essa área é clara e transparente. No paciente com catarata, o cristalino passa por um processo que torna essa lente opaca”, explica o médico cirurgião oftalmológico.
Para ajudar pacientes e familiares a entenderem mais sobre a doença, reproduzimos aqui, na íntegra, um guia com perguntas e respostas sobre a catarata produzido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa e Catarata.
25 Perguntas e Respostas sobre Catarata
1- O que é Catarata? O termo “catarata” é dado para qualquer tipo de perda de transparência do cristalino, lente situada atrás da íris (Figura), seja ela congênita ou adquirida, independente de causar ou não prejuízos à visão. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a catarata é responsável por 47,8% dos casos de cegueira no mundo, acometendo principalmente a população idosa.
Então, o que é uma pele que recobre o olho? A “pele” que recobre o olho externamente e que muitos confundem com a catarata é chamada de Pterígio, que, na verdade, é uma degeneração da conjuntiva e pode ter ou não indicação cirúrgica.
2- Quais são as causas da catarata? A catarata é uma doença multifatorial e pode ser congênita ou adquirida. A causa mais comum da catarata é o envelhecimento do cristalino que ocorre pela idade, denominada de catarata senil. Porém também poderá estar associada a alterações metabólicas que ocorrem em certas doenças sistêmicas, (ex. Diabetes Mellitus), oculares (ex. uveíte), tabagismo, alcoolismo, secundária ao uso de certos medicamentos (ex. corticoides) ou a trauma ocular (contuso, perfurante, por infravermelho, descarga elétrica, radiação ultravioleta, raios X, betaterapia ou queimaduras químicas graves).
3- A catarata acomete sempre os dois olhos? A catarata pode acometer apenas um, ou ambos os olhos, dependendo de sua causa. A catarata relacionada à idade, doença sistêmica ou ao uso de corticosteroides sistêmicos, geralmente é bilateral e assimétrica, ou seja, pode estar mais avançada em um dos olhos. Poderá ser unilateral se for secundária a doença ocular, ou ao trauma do olho acometido.
4- Quais são os sintomas da catarata? Na maioria das vezes a catarata não pode ser diagnosticada a olho nu e nem mesmo é percebida facilmente pelos próprios portadores da catarata nas suas fases iniciais. Os principais sintomas da catarata são: sensação de visão embaçada, alteração contínua da refração (grau dos óculos), maior sensibilidade à luz, espalhamento dos reflexos ao redor das luzes e percepção que as cores estão desbotadas. Geralmente há uma piora da miopia com redução da visão em baixo contraste e baixa luminosidade principalmente para longe, comparativamente à visão para perto. Somente o oftalmologista poderá solicitar os exames necessários para a confirmação do diagnóstico, bem como, indicar o melhor procedimento cirúrgico para tratamento.
5- Há alguma medida preventiva para evitar que a catarata se instale? Não há como evitar a predisposição genética e nem o envelhecimento do cristalino. Porém, algumas medidas preventivas podem ser realizadas visando reduzir alguns fatores de risco para o desenvolvimento da catarata. Reduzir o tabagismo proteger-se contra a radiação ultravioleta (principalmente UVB) e traumas, controlar o Diabetes Mellitus, e evitar o uso de corticoides são cuidados que podem ser eficazes na prevenção da catarata. É fundamental ter consciência dos perigos da automedicação.
6- Existe algum tratamento clínico para a catarata? Não, o único tratamento eficaz para a catarata é a cirurgia.
7- Apenas pessoas idosas precisam ser submetidas à cirurgia de catarata? A recomendação de tratamento cirúrgico para portadores de catarata não está relacionada à idade do paciente e sim ao seu comprometimento visual. Qualquer portador de catarata deve ser submetido a cirurgia desde que tenha sua capacidade ocular prejudicada pela doença e apresente condições de recuperação pós-cirurgia.
8- Existe cura para a catarata? Sim, a deficiência visual causada pela opacificação do cristalino pode ser revertida com tratamento cirúrgico, no qual a lente natural opaca é removida e substituída por uma lente artificial transparente, chamada de lente intraocular.
9- Em que consiste a cirurgia de catarata? A cirurgia da catarata consiste da remoção do cristalino opaco e sua substituição por uma prótese transparente (lente intraocular) para possibilitar melhor passagem dos estímulos luminosos para o interior do olho e é denominada facectomia com implante de lente intraocular.
10- A cirurgia de catarata é muito arriscada? A cirurgia de catarata é a cirurgia mais realizada na oftalmologia e foi uma das técnicas cirúrgicas que mais evoluiu nas últimas décadas. Há pouco mais de 30 anos, era realizada sob anestesia geral, a catarata era removida através de uma incisão ampla, seguida por implante de lente intraocular rígida e múltiplas suturas do globo ocular.
Atualmente, a incisão é de cerca de dois milímetros, a catarata é emulsificada (fragmentada) em pequenos pedaços e aspirada por um aparelho chamado de facoemulsificador e a lente intraocular é dobrável. A incisão de pequeno tamanho e arquitetura auto selante, geralmente, dispensa a utilização de suturas. Trata-se de um procedimento microscópico de alta complexidade, é muito seguro, porém, como qualquer procedimento invasivo, não é isento de riscos. A tecnologia atual e a experiência do cirurgião reduzem significativamente esse risco.
A saúde geral e ocular do paciente, bem como sua história familiar, são fatores que influenciam diretamente o resultado cirúrgico. Além disso, é fundamental que o paciente siga as orientações pré e pós-operatórias de seu oftalmologista para minorar os riscos.
11- Como posso ter certeza se é o momento certo para operar a catarata ou se posso esperar mais alguns anos? Na técnica cirúrgica antiga, denominada extracapsular, em que se removia a catarata sem fragmentá-la, havia o consenso de se aguardar a catarata evoluir (amadurecer) para se indicar a cirurgia, pois o procedimento era mais invasivo e sua recuperação mais prolongada, com maiores riscos para o paciente. Com o advento da facoemulsificação, houve uma mudança nesta abordagem, evitando-se que a catarata chegue a um estado muito avançado, pois a sua rigidez dificultará a sua aspiração, aumentando o risco de complicações cirúrgicas e o tempo de recuperação pós-operatório.
A indicação mais frequente da cirurgia de catarata é o desejo, por parte do paciente, de enxergar melhor. Entretanto, em determinadas circunstâncias, pode ser necessário partir do oftalmologista a indicação, visando tratar ou evitar complicações decorrentes da presença do cristalino doente, opaco e/ou de volume aumentado, ou ainda para possibilitar a avaliação e tratamento de doenças da retina e do nervo óptico.
12- Devo operar os dois olhos simultaneamente ou um de cada vez? O intervalo de tempo entre a cirurgia de catarata do primeiro para o segundo olho varia muito conforme o cirurgião, porém, existe, de um modo geral, um consenso de se evitar a realização da cirurgia de catarata bilateral simultânea. O resultado do primeiro olho poderá servir como base para melhor programação da próxima cirurgia.
13- A cirurgia de catarata pode ser realizada em Clínicas Oftalmológicas? A cirurgia de catarata é realizada sob anestesia local e geralmente se realiza uma sedação para proporcionar maior conforto ao paciente. A anestesia é sempre realizada por um médico anestesista, que também realizará o acompanhamento clínico do paciente durante o procedimento, com monitorização cardíaca e oximetria de pulso. A cirurgia poderá ser realizada em clínicas desde que estas ofereçam infraestrutura adequada para que o anestesista trabalhe com segurança e facilidade de transporte adequado para remoção rápida em casos de intercorrências emergenciais.
14-Como posso saber se o médico que irá me operar está realmente qualificado? O primeiro passo é saber se o cirurgião é de fato um especialista nesta área. Para isso, é possível consultar a lista de membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Catarata e Refrativa (BRASCRS). Também é importante ter referências de amigos ou parentes que tenham sido operados por este oftalmologista e, além disso, conhecer o local em que seu médico costuma operar. A confiança é fundamental para o sucesso do tratamento.
15- Que tipo de anestesia é usada na cirurgia de catarata? A anestesia é local podendo ser realizada somente com gotas anestésicas, ou através da injeção de pequena quantidade de anestésico local na região inferior da órbita, técnica denominada bloqueio peribulbar, onde o globo permanece sem movimento e sem sensibilidade. O paciente pode se manter lúcido ou ligeiramente sedado. A anestesia é sempre realizada por profissional habilitado, médico anestesista, que também é o responsável pelo acompanhamento clínico do paciente durante o procedimento, com monitorização cardíaca e oximetria de pulso ao longo da cirurgia. Nos casos de catarata em crianças ou adultos com dificuldades de controle dos movimentos ou de compreensão, a anestesia deve ser geral.
16- A cirurgia de catarata é realizada com LASER? Na técnica moderna desta cirurgia, o laser de femtossegundo pode ser usado para realizar alguns passos da cirurgia, como a confecção das incisões, a retirada de uma parte da membrana que envolve o cristalino e a fragmentação da catarata, mas a aspiração dos fragmentos será realizada através do facoemulsificador.
17- É verdade que a cirurgia de catarata é um procedimento simples e que pode ser realizada em poucos minutos? A cirurgia da catarata não é um procedimento simples. De fato, o avanço dos equipamentos e das técnicas possibilitaram a redução no tempo de cirurgia da catarata, porém trata-se de um procedimento complexo, cuja curva de aprendizado é longa. O cirurgião deverá ter a habilidade de operar olhando através de um microscópio de alta definição, com instrumentos delicados em ambas as mãos que são usados na manipulação da catarata e com pedais de controle do facoemulsificador e do microscópio, um em cada pé. O aparelho facoemulsificador possui diversos parâmetros que deverão ser ajustados conforme a experiência e técnica utilizada pelo cirurgião e dependendo do grau da catarata a ser operada.
18- Tenho miopia. A cirurgia de catarata resolverá este problema também? Atualmente a cirurgia de catarata tem o potencial de corrigir o grau de olhos míopes, hipermetropes e astigmatas através das modernas lentes intraoculares. Porém temos que ressaltar que esta correção vai depender de múltiplos fatores como a técnica cirúrgica, cicatrização do paciente e principalmente o cálculo dos implantes intraoculares.
19- Qual é a melhor lente intraocular disponível atualmente? O oftalmologista saberá indicar o melhor tipo de lente intraocular para cada caso.
20- A lente intraocular pode se deslocar depois de implantada? Em situações normais, o deslocamento da lente intraocular é algo muito raro. Existem casos em que esse evento tem mais chances de ocorrer, e seu oftalmologista deverá lhe orientar sobre o assunto.
21- Após a cirurgia é preciso usar óculos? É necessário entender a diferença entre independência dos óculos e eliminação total do grau. Mesmo com independência, pode haver necessidade de utilização de óculos para determinadas atividades. Além disso, características pessoais, oculares e das lentes intraoculares recomendadas para cada situação interferirão na maior ou menor independência dos óculos.
22- Quais exames precisam ser feitos antes da cirurgia? As orientações específicas quanto aos exames clínicos e oculares serão fornecidas pelo oftalmologista responsável.
23- Quais são os cuidados que devo ter no pós-operatório?
Modo correto de utilização dos medicamentos Usar a visão logo após operar a catarata Tempo de repouso Lavar a cabeça Retorno às atividades Praticar esportes após a cirurgia, etc. As orientações sobre os cuidados pós-operatórios são específicas para cada caso e serão fornecidas pelo oftalmologista responsável.
24- Quanto tempo leva para a visão voltar ao normal após a cirurgia? A melhoria da visão está diretamente relacionada com a intensidade da inflamação do olho ao procedimento cirúrgico. A resposta inflamatória pode se manifestar com intensidades diferentes dependendo do grau evolutivo em que se encontrava a catarata e as condições de recuperação da córnea, retina e demais estruturas oculares do paciente. Diabetes e outras alterações também podem interferir na recuperação. É comum a visão ficar embaçada nos primeiros dias de pós-operatório. Havendo pouca ou nenhuma inflamação a visão se recupera rapidamente.
25- Existe risco de a catarata voltar após a operação? Não. Uma vez retirada e substituída por uma lente intraocular, a catarata não voltará mais. O que pode ocorrer em alguns casos é um processo de fibrose na membrana que serve como suporte para lente intraocular. Dependendo da intensidade dessa fibrose a membrana pode se tornar opaca prejudicando a visão. Para resolver essa opacidade é recomendo um procedimento denominado de capsulotomia por Yag LASER. Este procedimento é realizado em caráter ambulatorial, é indolor e, quando indicado, traz melhora significativa da visão
Doenças como glaucoma e diabetes também podem favorecer o surgimento de catarata.
Fotos: Unsplash
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